terça-feira, 31 de maio de 2011

A cultura em cima do ringue


Pode ser que a relação entre cultura e luta livre seja muito mais próxima do que se imagina
Por Joelma Santos
            A sétima edição da Virada Cultural aconteceu nos dias 16 e 17 de abril e contou com um público aproximado de 4 milhões de pessoas. Entre as diversas atrações oferecidas pelo evento havia uma que destoava de todas as outras. Primeiro por ser a estréia na maior festa cultural do país. E segundo, porque ficava difícil assimilar a prática da Luta Livre com a cultura, ou a algo que seja cultural. Foi possível, a todos que passavam pelo Vale do Anhangabaú, conferir as lutas que foram organizadas pela Federação Brasileira de Wrestling (BWF).
             Wrestling é uma arte marcial que usa técnicas de agarramento, arremesso e derrubada, podem ser disputadas por dois ou mais competidores e ou parceiros. Esse tipo de luta possui muitas modalidades e a que foi apresentada na Virada Cultural, adotada pela BWF, é a wrestling profissional, que mescla artes cênicas e catch wrestling, uma modalidade mais tradicional na luta livre. Mesmo com ataques violentos e a cara de mau dos lutadores, a competição realizada na Arena Anhangabaú mais parecia uma apresentação de circo onde todos os golpes são ensaiados e combinados por seus participantes.
            A BWF organizou um “campeonato” para a Virada e o vencedor levaria o Cinturão Rei do Ringue. Entre os lutadores brasileiros que participaram do evento estavam Xandão, atual campeão pela BWF, Super Sonico, Vira Lata, Pirata, Denny Boy e Mano John. O atual campeão americano, Tim Anderson, também participou, mas sem concorrer ao prêmio.
Aglomeração ao redor do ringue de luta livre
Foto retirada do site prefeitura.gov.sp
            Ao redor do ringue havia adultos e crianças, pessoas de todas as idades, que vibravam a cada novo golpe dado em um adversário. E pediam, a todo momento, mais porradas, mais pontapés e a repetição de golpes que pareciam ser fatais a quem os recebia. Era possível ouvir das crianças, “Bate mais!! Bate!!”. E, também, pedidos desesperados, de todos, para que competidores fossem lançados pra fora do ringue. Verdadeiros fãs de luta livre eram facilmente identificados porque conheciam todos os golpes pelo nome e explodiam de alegria quando o lutador para quem torciam ganhava vantagem na luta.
            A grande final do campeonato foi entre Xandão, conhecido como o “Gigante de Bragança”, e Super Sonico, que tinha praticamente metade do tamanho de seu adversário, mas que o superava em agilidade. Com a luta ganha, Xandão, que declarou em entrevista, “quando ouço gritarem meu nome, tenho vontade de ganhar e bater cada vez mais”, foi desclassificado porque subiu no ringue com uma cadeira e agrediu o juiz. Depois disso jogou o cinturão em cima de Sonico e foi embora.
            Entre uma luta e outra o público pôde apreciar outras atrações no ringue. O Circo Zanni, por exemplo, fez uma apresentação na tarde de domingo, dia 17, com dois palhaços vestidos de lutadores de boxe que arrancaram boas gargalhadas das pessoas que acompanhavam a programação do palco.
            Uma atração muito aguardada no domingo foi o Consejo Mundial de Lucha Libre, (CMLL), do México. Essa companhia mexicana adota o estilo telecatch que conta com golpes ensaiados. Entre os participantes mexicanos estavam Angel de Oro, Hijo Del Fantasma, Texano, Stuka, Metro, Tiger Kid, Puma King, Rey Cometa, Scandalo e Terrible, que foi o vencedor de uma competição criada entre a “trupe”. Pareciam mais acrobatas circenses que atletas de lula livre. A maioria dos luchadores estava com máscaras porque elas têm um significado para a cultura mexicana. São consideradas sagradas e se um lutador arranca a máscara de seu adversário em uma luta, é desclassificado imediatamente.
            A luta livre é um esporte pouco conhecido e cultuado no Brasil, mas é praticado por homens e mulheres e tem regras claras como qualquer outra prática esportiva. O problema está na relação que se faz da luta livre com o vale tudo. Na verdade são coisas completamente diferentes. O vale tudo é uma das modalidades da luta livre, assim como a luta greco romana e o sambô, que surgiu na Rússia no século XX.
            Para Jeanne Bernardo, 23, estudante de Educação Física, a luta livre é recomendada desde que ajude o indivíduo a desenvolver conceitos de disciplina, respeito e socialização e capacidades físicas como força, resistência e agilidade. “Depende para qual público e de que forma o esporte será abordado. Tudo que é produzido pelo homem faz parte de sua cultura e se isso lhe agrega valores, é uma prática válida”, complementa Jeanne.

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