domingo, 29 de maio de 2011

Festa da Palavra

Balaio de Dois encanta público da Virada Cultural com cantigas e brincadeiras muito além das gargalhadas

Por Lívia Fonseca Nunes

“O meu pai chama-se Caco. A minha mãe “Caca Maria”. Lá em casa é tudo caco, e eu, sou filho da cacaria”. Pronto. A simples construção basta para arrancar as gargalhadas do público.
Muito mais do que contar piadas, o espetáculo do grupo “Balaio de Dois” é a festa da palavra: música, poesia, trava-línguas, cantigas de roda, parlendas, adivinhas, trocadilhos se unem com leveza e simplicidade. É diversão garantida.
Poesia e música sempre estiveram lado a lado. Há 14 anos, o encontro entre um escritor e um compositor confirmaria essa perfeita união. Paulo Netho e Salatiel Silva tornaram-se “Balaio de dois” em 2005. O resultado está nos livros e cd’s lançados, além dos mais de 1000 shows realizados em várias localidades do Brasil.
Quem passou pela “Casa das Rosas” no dia 17 de abril pode se contagiar com a alegria e espontaneidade da dupla. Parte da programação da Virada Cultural, a apresentação envolveu o público, trouxe recordações, provocou risos e concluiu seu papel de levar alegria, conforto e interatividade, despertando o gosto pela leitura no público.
Longe de ser apenas infantil, a plateia estava cheia de adultos, adolescentes, senhores e senhoras que participaram e se deixaram levar pelas cantigas, rimas, trava-línguas e poesias. E essa é a intenção. Nas palavras de Salatiel Silva: “nosso show é para crianças de 7 a 90 anos”.
A honestidade, impulso e inocência infantil foram ingredientes a mais da alegria. Durante a apresentação, risadas altas e comentários espontâneos provocavam gargalhadas nos mais velhos. Sem pestanejar, Paulo Netho improvisava e contornava a sinceridade que só as crianças têm, deixando-as de saia justa, sem saber o que responder.
Na apresentação, cantigas antigas ganham versões novas. Os artistas surpreenderam ao trocar o boi da cara preta pela rima: “foi, foi, foi, foi só pra você que eu troquei a letra da canção de adormecer”.
Mas as velhas conhecidas também tiveram espaço. Paulo emendou a cantiga com poesia e trouxe a memória à tona ao cantar o alecrim dourado. Fazendo jus à tarde de domingo, não poderia e não faltou: “hoje é domingo, pé de cachimbo, cachimbo é de ouro, bate no touro, o touro é valente, bate na gente, agente é fraco, cai no buraco, o buraco é fundo acabou-se o mundo”.
O público mais velho lembrava-se das letras, cantou e se divertiu. Para Salatiel, o desejo da dupla não é resgatar uma memória, mas “não deixar morrer algumas coisas que são fundamentais”.
Paulo Netho declara que a intenção é despertar o raciocínio e amor pela palavra. A satisfação e certeza de que o trabalho dá certo, ocorrem quando eles percebem as crianças acompanhando o show, tentando falar os trava-línguas, cantando junto com eles. A apresentação da virada alcançou o objetivo.
A produtora Camila não conhecia o trabalho da dupla até pesquisar possíveis atrações para o evento. Paulo e Salatiel fizeram um show exclusivo para a produção que se encantou de primeira e marcou dois espetáculos para a virada.
Ela acertou na escolha. Como diriam os artistas, uma “salva de dedos” para a produção e, é claro, para o "Balaio de Dois".



No quadro:

Música: arte e técnica de combianar os sons.
Poesia: versos destinados a evocar sensações, impressões e emoções por meio da união de sonos, ritmos e harmonia.
Adivinha: pergunta enigmática para ser decifrada.
Cantiga: poema cantado com acompanhamento musical, dividido em estrofes iguais.
Trocadilho: jogo de palavras semelhantes na forma mas diferentes no significado.
Parlendas: versos com temática infantil , recitados em brincadeiras de crianças.
Trava-línguas: conjunto de palavras formando uma frase que seja de difícil articulação.

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